29 de março de 2009

OS JARDINS DA MINHA MENTE


“Nada ficou no lugar”. Canta ao fundo Adriana. Lembra-me Vanuza – isso denota idade – “Hoje vou mudar, vasculhar minha gaveta, jogar fora sentimentos e ressentimentos tolos...”. Juntar as coisas é um hábito humano. Colecionar coisas, economizar dinheiro no banco. Alguns entulham a casa de quinquilharia, outros compram e compram sempre, coisas que nem precisam. Alguns juntam lixo mesmo! A ponto de não conseguirem entram em casa, e isso não é força de expressão.

Somos “juntadores” por natureza... Acumular fez parte do que tornou nossa espécie dominante no planeta, acumular terras, impérios, escravos, mulheres, comida, gordura no corpo – eu que o diga – enfim, tudo.

Bem, eu não junto lixo! Não tenho sequer conta em banco, não gosto de quinquilharias tampouco de qualquer tipo de coleção – não tenho paciência pra isso. Não possuo bens, não compro nada, quase nada. Não tenho terras, impérios nem nada disso. Há! Gordura no corpo! Isso acumulo! Infelizmente. Mas acho que nem me faz mal. O que me destrói mesmo são as coisas daquela música. Ressentimentos contra mim mesmo, decepções, fracassos, empilhados e organizados no meu cérebro. Com tanta merda pra colecionar, eu tinha que colecionar logo tristezas... Muitas... E é incrível como elas se preservam com o mesmo cheiro, temperatura, intactas. Claro! Eu as cultivo... Faço polimento com cera como se fosse um carro esporte. Adubo-as com a minha própria vida, com minha energia vital, tudo pra elas, para as minhas tristezas.

Bem, hoje acordei meio revoltado. Sabe aqueles momentos que você tem vontade de jogar tudo pro alto? Então... Joguei! Quando vi, estava quebrando a golpes de marreta as paredes do jardim suspenso onde as tristezas estavam plantadas. Mandei tudo pro lixo. Do cascalho vou fazer um novo chão. Vai ser agora a lavanderia lá. Sempre que precisar lavar algumas manchas já sei aonde ir. Espero que o clima primaveril não tenha espalhado o pólen daquelas tristezas pelo ar e que de repente elas consigam novo refúgio em algum canto recôndito do meu crânio. Mas acho que isso pode até ser inevitável. Mas no que depender de mim, vou deixá-las secar, até morrerem à míngua do esquecimento.

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