8 de março de 2009

SONHOS OU DESEJOS

Os sonhos são como piolhos. Não vou ficar somente nessa afirmação enfadonha que mais parece uma frase solta ao esmo, à procura de um sentido filosófico como uma videoarte ou uma arte conceitual qualquer.
– Uma cutucada de leve.

Minha percepção é que a palavra “sonho” é usada de modo a justificar a própria ineficiência, preguiça ou simplesmente para criar em torno de si uma parede protetora, para que o indivíduo não precise cobrar-se e para que os indivíduos que o cercam também não possam cobrá-lo por resultados tangíveis. Quando algo é posto sob o estatuto do “sonho” todos parecem entendê-lo como irrealizável. Desse modo, o sonhador torna-se uma espécie de vítima de si mesmo, ou das condições “externas” que impedem a realização do seu “sonho”.

Sonhos não são desejos. Essa é uma questão semântica que reflete uma das maiores fragilidades humanas, a de assumir a própria condição e o leme de sua vida. Procuramos sempre deixar esse leme aos cuidados de outros: Deus, Acaso, Mercado Econômico, dependendo do tipo de crença de cada um. Mas a minha vida é responsabilidade minha, e de mais ninguém. Os desejos são, pela força da palavra, mais tangíveis e com isso trazem consigo um compromisso, um comportamento que movimenta o indivíduo em busca de realizá-los. Passa a operar no estatuto da fome, da sede, do sexo, coisas sem as quais ninguém sobrevive.

Quando temos um desejo, fazemos de tudo para realizá-lo, para alcançá-lo. Por isso penso no uso dessas palavras com cuidado. Com o cuidado de quem não quer podar-se e nem delegar aos outros as responsabilidades que me cabem. Sonhos são coisas que ainda não foram realizadas, por nenhum ser humano nesse planeta. Se já foi feita, essa “coisa” não é sonho, é desejo.

Deseje, realize, sonhe e tente ser o primeiro a realizar e transformar os sonhos em desejos.

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